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Postado por Gilmar da Silva, em 21, 11, 2009
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Espero que esta possa encontrá-lo gozando perfeita saúde, cercado de sua família e das pessoas que lhe são caras. Em Brasília, faz algum tempo, tive oportunidade de comer um churrasco de rena. A importação da carne ficou por conta do embaixador da Noruega, ou da Finlândia — de um desses países muito frios — que frequentava a casa de amigos meus no Lago Norte. Presume-se que um embaixador relate ao seu governo os rumos políticos do país em que foi acreditado. Sou capaz de apostar que os relatórios do diplomata, se publicados, logo se transformarão no melhor livro de humor publicado desde Mark Twain.
Bebia-se, caro papai-noel, à margem boreal do Paranoá — e não era pouco. Mansão frequentada por gente importantíssima. O único joão-ninguém era aqui o seu amigo, que acaba de confirmar no Houaiss a antonímia de austral: boreal. Se austral é sul, boreal é norte, do Lago Norte onde o embaixador nórdico se abeberava das novidades para transmitir, em código, ao seu governo.
E o mais engraçado, preclaro amigo, é que todas as maluquices transmitidas pelo diplomata se transformaram em realidade. Veja-se o que Lula dizia de Collor, que dizia de Sarney, que dizia de Collor, que dizia de Lula, que dizia de Sarney e os três, hoje, são farinha do mesmo saco. Donde se conclui que é melhor não concluir nada, porque o Brasil é inconcludente: não prova, demonstra ou resolve algo. As obras do PAC não me deixam mentir.
Ocupado no ajaezar de suas renas, também chamadas caribus, presumo que papai-noel não tenha tempo de ler esta carta. Por telepatia, o amigo sabe o que desejo de papai-noel com hífen, como presente natalino. Por mal dos pecados, meu diretor de redação exige que eu tire férias pelo Natal e ano-novo. Detesto férias, mas sou funcionário subalterno. Por isso, resolvi passar o fim de ano em Ushuaia, que ninguém sabe onde fica, mas o doutor Bill Gates sabe: é no Canal de Beagle, extremo sul da Argentina. Darwin passou por lá embarcado num veleiro pequeno; o navio imenso com que me acenam promete parar em Punta Arenas, Ushuaia e Ilhas Falkland. Como pode alguém chegar ao limiar da Pior Idade sem conhecer as Ilhas Malvinas?
Cabine externa com vista obstruída. Sabe Papai Noel por quê? Ora, porque a janela dá para as baleeiras salva-vidas, que viajam penduradas do lado de fora do transatlântico. Piscinas, cassino, cinco refeições diárias e jovens senhoras fazendo turismo, naquele entusiasmo sexual das turistas. E o philosopho lá, mamando seu charutinho pensando na morte da bezerra.
A excursão é tão barata que convidei filha e netos. Tudo incluído, menos bebidas. Os netos não bebem e o avô não é mais o mesmo. Restam as cervejas da filha, que puxou ao pai. O genro, homem sério, recusa-se a embarcar num navio, porque não pode ficar longe dos seus negócios.
Não faço à sua inteligência, caro Papai Noel, a descortesia de especificar o presente que lhe peço por telepatia. Pode hospedar o mimo num hotel próximo de minha casa, que pago a conta quando voltar de Ushuaia. Ajuizado, prometo não encarar um quinto divórcio. Conto com o seu bom gosto na escolha do presente. Sovaquinhos peludos serão bem-vindos.
Sem abusar de sua boa vontade caríssimo papai-noel, peço que inclua no fundo falso de sua carruagem 10 milhões de papais-noéis para distribuir no Brasil. Explico: são nos fundo falsos que circulam por aqui armas munição e cocaína. Os presentinhos são virtuais e não pesam, portanto não sacrificam seus caribus: talvez sejam suficientes para iniciar a moralização de um país grande e bobo. Refiro-me, como o amigo já entendeu, a 10 milhões de pacotinhos contendo vergonha na cara.
Bebia-se, caro papai-noel, à margem boreal do Paranoá — e não era pouco. Mansão frequentada por gente importantíssima. O único joão-ninguém era aqui o seu amigo, que acaba de confirmar no Houaiss a antonímia de austral: boreal. Se austral é sul, boreal é norte, do Lago Norte onde o embaixador nórdico se abeberava das novidades para transmitir, em código, ao seu governo.
E o mais engraçado, preclaro amigo, é que todas as maluquices transmitidas pelo diplomata se transformaram em realidade. Veja-se o que Lula dizia de Collor, que dizia de Sarney, que dizia de Collor, que dizia de Lula, que dizia de Sarney e os três, hoje, são farinha do mesmo saco. Donde se conclui que é melhor não concluir nada, porque o Brasil é inconcludente: não prova, demonstra ou resolve algo. As obras do PAC não me deixam mentir.
Ocupado no ajaezar de suas renas, também chamadas caribus, presumo que papai-noel não tenha tempo de ler esta carta. Por telepatia, o amigo sabe o que desejo de papai-noel com hífen, como presente natalino. Por mal dos pecados, meu diretor de redação exige que eu tire férias pelo Natal e ano-novo. Detesto férias, mas sou funcionário subalterno. Por isso, resolvi passar o fim de ano em Ushuaia, que ninguém sabe onde fica, mas o doutor Bill Gates sabe: é no Canal de Beagle, extremo sul da Argentina. Darwin passou por lá embarcado num veleiro pequeno; o navio imenso com que me acenam promete parar em Punta Arenas, Ushuaia e Ilhas Falkland. Como pode alguém chegar ao limiar da Pior Idade sem conhecer as Ilhas Malvinas?
Cabine externa com vista obstruída. Sabe Papai Noel por quê? Ora, porque a janela dá para as baleeiras salva-vidas, que viajam penduradas do lado de fora do transatlântico. Piscinas, cassino, cinco refeições diárias e jovens senhoras fazendo turismo, naquele entusiasmo sexual das turistas. E o philosopho lá, mamando seu charutinho pensando na morte da bezerra.
A excursão é tão barata que convidei filha e netos. Tudo incluído, menos bebidas. Os netos não bebem e o avô não é mais o mesmo. Restam as cervejas da filha, que puxou ao pai. O genro, homem sério, recusa-se a embarcar num navio, porque não pode ficar longe dos seus negócios.
Não faço à sua inteligência, caro Papai Noel, a descortesia de especificar o presente que lhe peço por telepatia. Pode hospedar o mimo num hotel próximo de minha casa, que pago a conta quando voltar de Ushuaia. Ajuizado, prometo não encarar um quinto divórcio. Conto com o seu bom gosto na escolha do presente. Sovaquinhos peludos serão bem-vindos.
Sem abusar de sua boa vontade caríssimo papai-noel, peço que inclua no fundo falso de sua carruagem 10 milhões de papais-noéis para distribuir no Brasil. Explico: são nos fundo falsos que circulam por aqui armas munição e cocaína. Os presentinhos são virtuais e não pesam, portanto não sacrificam seus caribus: talvez sejam suficientes para iniciar a moralização de um país grande e bobo. Refiro-me, como o amigo já entendeu, a 10 milhões de pacotinhos contendo vergonha na cara.
eduardoreis.mg@dabr.com.br – Correio Braziliense
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