Água e energia estão
estreitamente ligados, destaca a Unesco
Na Ásia, a questão da água deverá
provocar um aumento considerável das tensões políticas Foto: AFP
O crescimento econômico e demográfico,
principalmente nos países emergentes, provocará nas próximas décadas um forte
incremento na demanda de água e energia, com risco de esgotamento dos recursos
do planeta, adverte a ONU nesta sexta-feira.
Água e energia estão estreitamente ligados, destaca
a Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) em um
relatório sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos no Mundo, publicado na
véspera do Dia Mundial da Água.
"A produção energética representa quase 15%
das extrações de água, e a tendência é de alta", já que 90% da produção de
energia mundial utiliza importantes volumes de água, destaca o documento.
O acesso à água corrente e à eletricidade de
centenas de milhões de pessoas gera enormes desafios, tendo em conta que
"20% dos aquíferos do planeta estão superexplorados", adverte a
Unesco. Segundo as previsões, a demanda por eletricidade crescerá 70% até 2035,
e mais da metade deste crescimento se produzirá na China e na Índia.
- A demanda por água doce e energia seguirá
aumentando nas próximas décadas para atender às necessidades das populações e
das economias em crescimento e as mudanças de estilo de vida e de consumo,
amplificando de forma importante as pressões sobre os recursos naturais
limitados e os ecossistemas - destaca o documento, apresentado em Tóquio.
Atualmente, 768 milhões de pessoas carecem de
acesso seguro e regular à água, mais de 1,3 bilhão vivem sem eletricidade e
quase 2,6 bilhões utilizam combustíveis sólidos - biomassa em particular - para
cozinhar. O relatório prevê um aumento de 55% na demanda de água nos próximos
35 anos.
Na Ásia, a questão da água deverá provocar um
aumento considerável das tensões políticas, já que os mananciais dos rios
geralmente ficam nas fronteiras.
"As zonas de conflito incluem o Mar de Aral e
as bacias do Ganges e do Brahmaputra, do Indus e do Mekong", destaca a
ONU. A demanda energética aumentará em mais de um terço até 2035, e mais da
metade deste aumento ocorrerá na China, Índia e Oriente Médio.
Em relação à água consumida pelo setor energético,
passará de 66 bilhões de metros cúbicos de água doce em 2010 para quase o dobro
(+85%) em 2035. A busca de alternativas energéticas - como os biocombustíveis -
exige igualmente o uso de enormes volumes de água.
"Desde o início dos anos 2000 são
desenvolvidos cultivos agrícolas em grande escala para a produção de
biocombustíveis, que consomem enormes volumes de água (...). A exploração
do gás de xisto também registrou uma grande expansão nos últimos anos, em
particular nos Estados Unidos, mas esta energia fóssil só pode ser extraída por
fratura hidráulica, um método que exige grandes volumes de água e comporta
riscos importantes de contaminação dos lençóis freáticos".
O relatório destaca que há um grande potencial de
construção de represas na América Latina, em particular no Brasil e na África,
mas que essas obras também representam desafios. "A construção das
represas para se produzir hidroeletricidade tem um custo social e ambiental
considerável, especialmente porque reduz a biodiversidade."
As energias eólica e solar, que consomem muito
pouca água, "estão ganhando terreno", mas "proporcionam um
serviço intermitente que deve ser complementado por outras fontes de
energia". Além disso, as energias renováveis não poderão desempenhar um
papel de verdadeira alternativa enquanto as energias fósseis (petróleo, gás,
carvão) receberem fortes subsídios, conclui a Unesco.
AFP

Nenhum comentário:
Postar um comentário