2 de out. de 2010

Porque o eleitor do Rio Grande do Sul não gosta de reeleição

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Postado por Gilmar da Silva, em 02/10/2010
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No Rio Grande do Sul, ninguém faz duas vezes o mesmo caminho para o Palácio Piratini. Desde a instituição da reeleição, em 1998, o governador sempre tentou, mas nunca conseguiu renovar o mandato. Quando os oito milhões de gaúchos forem às urnas eletrônicas, nesse domingo, 3 de outubro, o Rio Grande do Sul será o único grande Estado da Federação que nunca terá reeleito seu principal mandatário. Antônio Britto (PMDB) perdeu para Olívio Dutra (PT), que perdeu para Germano Rigotto (PMDB), que perdeu para Yeda Crusius (PSDB), que só por um milagre estará num segundo turno que, dessa vez, tem chance de nem vir a acontecer. Porque então, apesar do longo ciclo positivo da economia brasileira nos últimos 16 anos, o eleitor do Rio Grande, ao contrário do de outros Estados, jamais aperta a tecla CONFIRMA para seu governador?

É genérico demais tentar explicar com base no reconhecido espírito contestatório do gaúcho. Ele ajuda a propagar a lenda de que Porto Alegre é a única capital onde a Pepsi vende mais que a Coca-Cola, como se lá houvesse um prazer específico em ir contra a vontade da maioria. Mas se fosse esse o motivo, o senador Pedro Simon não estaria no terceiro mandato seguido de senador, confirmado sempre em pleitos de vaga única. Também não é por causa da mistificação de um Estado polarizado, que transfere para outras áreas o espírito de Gre-Nal. Se fosse assim, os gaúchos não teriam tido três partidos diferentes em quatro governos.

Se os eleitores não aprovam seus governadores, é certo que os políticos têm uma parcela grande de responsabilidade no resultado eleitoral. E isso é especialmente flagrante nos casos de Germano Rigotto e Yeda Crusius, que, de tão impopulares, foram incapazes de alcançar o segundo turno. Mas não deixa de ser particularmente contraditório que esses dois piores desempenhos tenham ocorrido justamente nos dois períodos de mais crescimento econômico desde a reeleição. Se a economia do Brasil vai bem, porque então os políticos que entram no Palácio Piratini vão mal? Porque isso acontece lá, quando no resto do País o fenômeno é inverso: de dar a políticos apagados ou quase desconhecidos a oportunidade de repetir o governo?

Uma conjunção de fatores explica a exceção gaúcha. Quando o Plano Real consolidou dívidas e a Lei de Responsabilidade Fiscal obrigou os governos a limitar gastos, o Rio Grande era, entre os maiores Estados, o que tinha, proporcionalmente, a maior dívida. Quando o Brasil inteiro foi obrigado a fazer o esforço fiscal dos anos finais de FHC, os gaúchos foram obrigados a apertar um ponto a mais no cinto do arrocho por conta do ajuste estadual. Some-se a isso outros fatores, como três grandes ciclos de apreciação do dólar (1994-1999, 2003-2008 e o de agora) que atingiram dramaticamente a indústria regional, predominantemente exportadora, e severas intempéries climáticas (houve um pouco de tudo, secas, cheias, geada) que prejudicaram o desenvolvimento agrícola do Rio Grande. Assim, nos últimos oito anos, o crescimento do PIB gaúcho foi inferior ao brasileiro em cinco. Em 2005, o Estado mergulhou numa recessão de 2,8%, enquanto o Brasil crescia 3,2%. Quando foi um pouco melhor que o PIB nacional, pode-se dizer que o desenvolvimento gaúcho quase empatou com o brasileiro.

Com a economia na contramão, entraram em cena os fatores políticos. Antes de ser um Estado polarizado, como mostram os números históricos do PMDB e do PT regional, hoje representado por Tarso Genro, o Rio Grande do Sul, pela fidelidade do gaúcho a seus princípios, é repartido por outras forças secundárias, mas importantes. Nessa eleição, é o Estado com maior número de candidatos ao governo: nove. Existe uma fatia conservadora que apoiou Arena, PFL, PPB e, agora, PP. E um eixo eternamente descontente com o equilíbrio de PT e PMDB – ele já foi Britto, quando ele mudou para o PPS, e depois Yeda. A soma de tudo isso, quando levado ao segundo turno, resultou, nessas quatro últimas eleições para o governo estadual, no ambiente que gerou a mudança. A insatisfação com a economia local leva as correntes dissidentes ao candidato da oposição – e assim o Rio Grande do Sul vai novamente às urnas nesse domingo, 3 de outubro, sem vontade de apertar o botão CONFIRME.

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