Postado por Gilmar da Silva, em 02/10/2010
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É genérico demais tentar explicar com base no reconhecido espírito contestatório do gaúcho. Ele ajuda a propagar a lenda de que Porto Alegre é a única capital onde a Pepsi vende mais que a Coca-Cola, como se lá houvesse um prazer específico em ir contra a vontade da maioria. Mas se fosse esse o motivo, o senador Pedro Simon não estaria no terceiro mandato seguido de senador, confirmado sempre em pleitos de vaga única. Também não é por causa da mistificação de um Estado polarizado, que transfere para outras áreas o espírito de Gre-Nal. Se fosse assim, os gaúchos não teriam tido três partidos diferentes em quatro governos.
Se os eleitores não aprovam seus governadores, é certo que os políticos têm uma parcela grande de responsabilidade no resultado eleitoral. E isso é especialmente flagrante nos casos de Germano Rigotto e Yeda Crusius, que, de tão impopulares, foram incapazes de alcançar o segundo turno. Mas não deixa de ser particularmente contraditório que esses dois piores desempenhos tenham ocorrido justamente nos dois períodos de mais crescimento econômico desde a reeleição. Se a economia do Brasil vai bem, porque então os políticos que entram no Palácio Piratini vão mal? Porque isso acontece lá, quando no resto do País o fenômeno é inverso: de dar a políticos apagados ou quase desconhecidos a oportunidade de repetir o governo?
Uma conjunção de fatores explica a exceção gaúcha. Quando o Plano Real consolidou dívidas e a Lei de Responsabilidade Fiscal obrigou os governos a limitar gastos, o Rio Grande era, entre os maiores Estados, o que tinha, proporcionalmente, a maior dívida. Quando o Brasil inteiro foi obrigado a fazer o esforço fiscal dos anos finais de FHC, os gaúchos foram obrigados a apertar um ponto a mais no cinto do arrocho por conta do ajuste estadual. Some-se a isso outros fatores, como três grandes ciclos de apreciação do dólar (1994-1999, 2003-2008 e o de agora) que atingiram dramaticamente a indústria regional, predominantemente exportadora, e severas intempéries climáticas (houve um pouco de tudo, secas, cheias, geada) que prejudicaram o desenvolvimento agrícola do Rio Grande. Assim, nos últimos oito anos, o crescimento do PIB gaúcho foi inferior ao brasileiro em cinco. Em 2005, o Estado mergulhou numa recessão de 2,8%, enquanto o Brasil crescia 3,2%. Quando foi um pouco melhor que o PIB nacional, pode-se dizer que o desenvolvimento gaúcho quase empatou com o brasileiro.
Com a economia na contramão, entraram em cena os fatores políticos. Antes de ser um Estado polarizado, como mostram os números históricos do PMDB e do PT regional, hoje representado por Tarso Genro, o Rio Grande do Sul, pela fidelidade do gaúcho a seus princípios, é repartido por outras forças secundárias, mas importantes. Nessa eleição, é o Estado com maior número de candidatos ao governo: nove. Existe uma fatia conservadora que apoiou Arena, PFL, PPB e, agora, PP. E um eixo eternamente descontente com o equilíbrio de PT e PMDB – ele já foi Britto, quando ele mudou para o PPS, e depois Yeda. A soma de tudo isso, quando levado ao segundo turno, resultou, nessas quatro últimas eleições para o governo estadual, no ambiente que gerou a mudança. A insatisfação com a economia local leva as correntes dissidentes ao candidato da oposição – e assim o Rio Grande do Sul vai novamente às urnas nesse domingo, 3 de outubro, sem vontade de apertar o botão CONFIRME.
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