Estado precisa apresentar plano concreto com oferta de área e incentivos fiscais para receber cluster na área médica
Protocolo de intenções prevê esforços para consolidar projeto de instalação de um cluster da área médica no eixo São Leopoldo-Porto Alegre Foto: Luiz Chaves/Palácio Piratini / Divulgação |
O primeiro passo foi dado, mas a caminhada até que o Rio Grande do
Sul tenha o seu "Vale da Saúde", nos moldes do que o governador José Ivo
Sartori e o prefeito José Fortunati visitaram ontem em Erlangen, na
Alemanha, é longo e repleto de obstáculos. O protocolo de intenções
assinado sob aplausos no enceramento da visita prevê que as duas partes
farão esforços para consolidar o projeto de instalação de um cluster da
área médica no eixo São Leopoldo-Porto Alegre, que vem sendo negociado
há três anos.
Os alemães não querem apenas votos de boas vindas e promessas de
churrasco e chimarrão: querem um plano concreto de incentivos, no mínimo
semelhante ao que outros Estados oferecem. Por plano concreto
entenda-se oferta de área e benefícios fiscais. As outras condições o
Estado tem: universidades de ponta, mão de obra qualificada, hospitais
de excelência e possibilidade de deslocamento rápido entre uma empresa e
outra, entre as universidades e as empresas e entre esses parceiros e
os hospitais. Por conta desse quesito, os alemães do Medical Valley
descartaram São Paulo.
Em Erlangen, cidade que cresceu e prosperou desde a implantação do
Medical Valley, o meio de transporte mais comum é a bicicleta. É o
preferido de alunos, professores, diretores de empresas e até do
ex-prefeito Siegfried Balleis, 61 anos, idealizador do projeto. Ontem,
enquanto a comitiva do governador se deslocava de táxi do Medical Valley
Center até o Palácio da Universidade FAU, Balleis foi de bicicleta — e
chegou antes. O ex-prefeito contou que, em 1996, quando tomou posse,
Erlangen era uma das cidades mais pobres e endividadas da Alemanha.
— Eu precisava decidir se cortava despesas ou tentava aumentar a
receita. E pensei que era preciso escolher um foco e perseguir o
crescimento.
O diagnóstico do ex-prefeito serve ao Rio Grande do Sul, que vive um
dilema semelhante, mas Sartori sabe que não é tão simples quanto foi
para Balleis promover a guinada.
— Eles têm outra cultura. Estão muitos anos a nossa frente. Isto é a Alemanha — comentou Sartori.
Apesar de ressaltar as diferenças, o governador acredita que é real a
possibilidade de o Rio Grande do Sul ter o seu "vale da saúde". Diz que
o Estado tem mecanismos para atrair empresas estrangeiras e cita o
Fundopem entre esses instrumentos. Embora nos contatos com o governador e
com o prefeito a conversa tenha sido genérica, o diretor-executivo do
Instituto Central para a Engenharia Biomédica, Tobias Zobel, 31 anos,
respondeu sem meias palavras quando questionado sobre o que o Rio Grande
do Sul precisa oferecer para ser o braço do Medical Valley no Brasil:
— Precisamos de um parceiro entusiasmado. O potencial do Rio Grande
do Sul é enorme. Tem universidades e hospitais muito motivados. O
governo tem dar suporte financeiro e de marketing, além de redução de
impostos ou algum tipo de incentivo fiscal.
Em agosto, uma missão composta por empresas instaladas no Medical
Valley deve ir ao Rio Grande do Sul conferir as condições relatadas por
Zobel e verificar o que o Estado oferece de concreto. A preocupação do
governador deve ser com a concorrência de Santa Catarina, que já tem em
seu território a BMW e a Siemens Healthcare, maior empresa instalada no
Medical Valley. Só ela emprega 45 mil pessoas na cidade. No mundo,
fatura 80 bilhões de euros por ano e investe 5% em pesquisa e
desenvolvimento. Em Joinville, fabrica equipamentos de ressonância
magnética e tomografia computadorizada. Sartori visitou o showroom da
Siemens e ouviu que a empresa planeja investir mais no Brasil, mas o
fato de já ter uma unidade em Santa Catarina faz, naturalmente, a
balança pender para o Estado vizinho.
clicRBS
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