27 de jan. de 2014

'Não deixo de pensar nela um segundo', diz pai de vítima da Kiss

Garota tinha 19 anos quando morreu em incêndio na Boate Kiss, em 2013.
Pais da vítima frequentam centros espíritas para buscar conforto.

Isabela estudava medicina veterinária
Isabela Fiorini vítima catarinense na tragédia de Santa Maria (Foto: arquivo pessoal) "Está tudo diferente", descreveu Gilberto Fiorini, pai de Isabella Fiorini, uma das vítimas da tragédia da Boate Kiss. Um ano após o incêndio que matou 242 pessoas em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, o pai afirmou que não consegue ter uma vida como era antes. "Não tem palavras, houve uma mudança muito radical. Acreditamos que também na vida de todas as famílias das vítimas".

Um incêndio durante uma festa para universitários terminou em tragédia na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. O fogo iniciado perto do palco durante um show provocou correria e pânico entre os frequentadores. A única saída disponível não foi suficiente para que todos saíssem a tempo e 242 pessoas morreram, a maioria delas asfixiadas por fumaça tóxica.

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A jovem catarinense tinha 19 anos e era estudante de medicina veterinária na Universidade Federal de Santa Maria. Dentro deste um ano após a morte dela, os pais mudaram de imóvel, mas não de cidade: continuam em São Miguel do Oeste, no Oeste de Santa Catarina. E buscaram conforto em centros espíritas, consultas com psicólogos e psiquiatras e medicação prescrita por médicos. "A tristeza é permanente. Não deixo de pensar na Isabella um segundo", disse Gilberto.

O centro espírita traz conforto espiritual. "Algumas respostas para questionamentos, o porquê das coisas", explicou o pai. Mesmo assim, ele acredita que a dor da perda vai continuar. "Nem o tempo vai amenizar. A gente chora muito".

Para o pai, o que mais mudou na maneira de ver as coisas foi na questão materialista. "Querer juntar mais bens não nos leva a lugar nenhum. Nós somos um sopro de vento, amanhã podemos não estar mais aqui", disse.

Interior da boate Kiss, após incêndio
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. A tragédia matou 242 pessoas, sendo a maioria por asfixia, e deixou mais de 630 feridos.
O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira e se espalhou rapidamente pela casa noturna, localizada na Rua dos Andradas, 1.925.

O local tinha capacidade para 691 pessoas, mas a suspeita é que mais de 800 estivessem no interior do estabelecimento. Os principais fatores que contribuíram para a tragédia, segundo a polícia, são: o material empregado para isolamento acústico (espuma irregular), uso de sinalizador em ambiente fechado, saída única, indício de superlotação, falhas no extintor e exaustão de ar inadequada.
Interior da boate Kiss, após incêndio ocorrido na madrugada deste domingo (27) (Foto: Giovani Grizotti/RBS TV) 
Ainda estão em andamento dois processos criminais contra oito réus, sendo quatro por homicídio doloso (quando há intenção de matar) e tentativa de homicídio, e os outros quatro por falso testemunho e fraude processual. Os trabalhos estão sendo conduzidos pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada. Sete bombeiros também estão respondendo pelo incêndio na Justiça Militar. O número inicial era oito, mas um deles fez acordo e deixou de ser réu.

Entre as pessoas que respondem por homicídio doloso (com intenção), na modalidade de "dolo eventual", estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro Hoffmann, além de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Os quatro chegaram a ser presos nos dias seguintes ao incêndio, mas a Justiça concedeu liberdade provisória aos quatro em maio do ano passado. Entre os bombeiros investigados, está Moisés da Silva Fuchs, que exerceu a função de comandante do 4° Comando Regional de Bombeiros (CRB) de Santa Maria.

Atualmente, a Justiça está em fase de recolher depoimentos dos sobreviventes da tragédia. O próximo passo será ouvir testemunhas. Os réus serão os últimos a falar sobre o incêndio ao juiz. Quando essa fase for finalizada, Louzada deverá fazer a pronúncia, que é considerada uma etapa intermediária do processo.

Se o magistrado "pronunciar" o réu, ele vai a júri (a pronúncia é a ordem para ir a júri). Outra possibilidade é a chamada desclassificação, quando o juiz não manda o réu para júri, mas reconhece que houve algum tipo de crime. Nesse caso, a causa será julgada sem júri. Também existe a chance de absolvição sumária dos réus. Em todas as hipóteses, cabe recurso.

No âmbito das investigações, três delas estão sendo conduzidas pela Polícia Civil. Além dos documentos sobre as licenças concedidas à boate Kiss, um inquérito apura as atividades da empresa Hidramix, responsável pela instalação de barras antipânico na boate, e outro analisa uma suposta fraude no documento de estudo de impacto na vizinhança do prédio onde ficava a casa noturna. O Ministério Público, por sua vez, investiga as responsabilidades de servidores municipais na tragédia.
Globo.com

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