Prefeitura pretende
replanejar a cidade e suspendeu por 90 dias a aprovação de novos hotéis com
mais de 30 unidades
Terceiro destino
turístico no Brasil, o predileto dos adoradores de chocolate, lareiras
crepitantes e flocos de neve, Gramado está apreensivo quanto ao futuro. No dia
25 de julho, a prefeitura tomou uma decisão tão inesperada como extrema: não
analisará projetos para a construção de novos hotéis nos próximos três meses.
Motivo: replanejar a cidade, evitar que seja desfigurada por prédios que já
assomam entre as montanhas e ameaçam a bucólica soberania das torres das
igrejas.
A medida surpreendeu,
mas era inadiável. Subitamente, uma pilha de 25 planos de hotéis e pousadas
aterrissou na mesa do prefeito Nestor Tissot (PP). Somente dois dos
empreendimentos, os maiores, previam um acréscimo de 1,5 mil quartos, os quais
resultariam em 5 mil leitos. Isso representa quase metade da rede atual de
hospedagem.
Ao suspender a
aprovação de novos hotéis com mais de 30 unidades por 90 dias, a prefeitura
reestudará o plano diretor. Uma comissão de arquitetos e urbanistas irá propor
regras, consultar a população e os empresários. Então, será enviado um projeto
de lei com mudanças à Câmara de Vereadores.
A ideia não é fechar a
cidade a hoteleiros de fora. O vice-prefeito, Luiz Antônio Barbacovi, esclarece
que a moratória de 90 dias é para reorganizar o setor. Cogita que possam surgir
empreendimentos inovadores, como hotéis temáticos, ou que se instalem na zona
rural.
— Queremos ter mais
controle, pois há excesso de projetos, que causariam impacto a médio e longo
prazo — ressalta Barbacovi.
Os reflexos já são
visíveis. Congestionamentos de automóveis nas ruas centrais e nos acessos à
cidade atormentam os visitantes. Ônibus de excursão e caminhões — transportando
tijolos e ferros aos canteiros de obras — emperram ainda mais o trânsito. Nos
finais de semana, há filas em restaurantes. Achar uma vaga para estacionar o
carro é loteria.
Os sintomas de
esgotamento se acumulam desde junho de 2010, quando a prefeitura teve de
implantar o estacionamento pago nas ruas, hoje com 749 vagas. No ano passado, o
Sindicato de Hotelaria, Restaurantes, Bares e Similares da Região das
Hortênsias alertou que a situação se encaminhava para o insustentável.
Ex-presidente e atual
vice do sindicato, Júlio Manoel Cardoso diz que os 140 hotéis e pousadas
existentes operam abaixo do desejável. É certo que superlotam em época de Natal
Luz, Festival de Cinema, Páscoa e previsões climáticas de neve. Lotam aos
finais de semanas. No entanto, ao longo do ano, a taxa de ocupação oscila entre
40% e 42% — aquém do ideal de 65%.
Conforme Cardoso, os
hoteleiros locais não se mobilizam apenas em defesa do mercado. Querem prevenir
que Gramado se descaracterize, troque as paisagens de ares europeus por
colossos de cimento, com as consequências na mobilidade de motoristas e
pedestres.
— A preocupação é com o
cidadão. Precisamos repensar a cidade para os próximos anos — afirma o dono de
pousada.
O receio dos
empresários é matar o que definem como a "galinha dos ovos de ouro".
Pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), encomendada pelo Ministério do
Turismo, colocou Gramado como terceiro destino turístico preferido no país.
Outro levantamento, da revista Viagem e Turismo, a escolheu como melhor cidade
para se desfrutar no inverno.
Para Cardoso, o
entupimento urbano poderá afugentar turistas mais exigentes — aqueles com
dinheiro, mas que não toleram congestionamentos e filas. Gramado perderia o
brilho e parte dos seus frequentadores mais fiéis.
clicRBS
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