3 de ago. de 2013

Gramado enfrenta sintomas de esgotamento



Prefeitura pretende replanejar a cidade e suspendeu por 90 dias a aprovação de novos hotéis com mais de 30 unidades
Terceiro destino turístico no Brasil, o predileto dos adoradores de chocolate, lareiras crepitantes e flocos de neve, Gramado está apreensivo quanto ao futuro. No dia 25 de julho, a prefeitura tomou uma decisão tão inesperada como extrema: não analisará projetos para a construção de novos hotéis nos próximos três meses. Motivo: replanejar a cidade, evitar que seja desfigurada por prédios que já assomam entre as montanhas e ameaçam a bucólica soberania das torres das igrejas.

A medida surpreendeu, mas era inadiável. Subitamente, uma pilha de 25 planos de hotéis e pousadas aterrissou na mesa do prefeito Nestor Tissot (PP). Somente dois dos empreendimentos, os maiores, previam um acréscimo de 1,5 mil quartos, os quais resultariam em 5 mil leitos. Isso representa quase metade da rede atual de hospedagem.

Ao suspender a aprovação de novos hotéis com mais de 30 unidades por 90 dias, a prefeitura reestudará o plano diretor. Uma comissão de arquitetos e urbanistas irá propor regras, consultar a população e os empresários. Então, será enviado um projeto de lei com mudanças à Câmara de Vereadores.

A ideia não é fechar a cidade a hoteleiros de fora. O vice-prefeito, Luiz Antônio Barbacovi, esclarece que a moratória de 90 dias é para reorganizar o setor. Cogita que possam surgir empreendimentos inovadores, como hotéis temáticos, ou que se instalem na zona rural.

— Queremos ter mais controle, pois há excesso de projetos, que causariam impacto a médio e longo prazo — ressalta Barbacovi.

Os reflexos já são visíveis. Congestionamentos de automóveis nas ruas centrais e nos acessos à cidade atormentam os visitantes. Ônibus de excursão e caminhões — transportando tijolos e ferros aos canteiros de obras — emperram ainda mais o trânsito. Nos finais de semana, há filas em restaurantes. Achar uma vaga para estacionar o carro é loteria.

Os sintomas de esgotamento se acumulam desde junho de 2010, quando a prefeitura teve de implantar o estacionamento pago nas ruas, hoje com 749 vagas. No ano passado, o Sindicato de Hotelaria, Restaurantes, Bares e Similares da Região das Hortênsias alertou que a situação se encaminhava para o insustentável.

Ex-presidente e atual vice do sindicato, Júlio Manoel Cardoso diz que os 140 hotéis e pousadas existentes operam abaixo do desejável. É certo que superlotam em época de Natal Luz, Festival de Cinema, Páscoa e previsões climáticas de neve. Lotam aos finais de semanas. No entanto, ao longo do ano, a taxa de ocupação oscila entre 40% e 42% — aquém do ideal de 65%.

Conforme Cardoso, os hoteleiros locais não se mobilizam apenas em defesa do mercado. Querem prevenir que Gramado se descaracterize, troque as paisagens de ares europeus por colossos de cimento, com as consequências na mobilidade de motoristas e pedestres.

— A preocupação é com o cidadão. Precisamos repensar a cidade para os próximos anos — afirma o dono de pousada.

O receio dos empresários é matar o que definem como a "galinha dos ovos de ouro". Pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), encomendada pelo Ministério do Turismo, colocou Gramado como terceiro destino turístico preferido no país. Outro levantamento, da revista Viagem e Turismo, a escolheu como melhor cidade para se desfrutar no inverno.

Para Cardoso, o entupimento urbano poderá afugentar turistas mais exigentes — aqueles com dinheiro, mas que não toleram congestionamentos e filas. Gramado perderia o brilho e parte dos seus frequentadores mais fiéis.
clicRBS

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