No
aquecimento, Usain Bolt dá um pique, leva as mãos às coxas e faz uma careta.
Momentos antes da prova, sob os olhos de todo o estádio Luzhniki, o jamaicano
parecia preocupado. As brincadeiras, quando se posicionou à raia, também foram
moderadas, ao contrário do costume. Mas, no soar do tiro da largada, toda a
pressão sumiu. Em 19s66, o homem mais rápido do mundo confirmou o óbvio. Pela
terceira vez, o jamaicano passeou nos 200m rasos do Mundial de Moscou. Pela
terceira vez, ele pode dizer que é campeão mundial da prova. O único tri da
história dos 200m. Cada vez mais, uma lenda.
Nem
os raios nem a chuva deram as caras como na decisão dos 100m. Mesmo assim, seu
novo recorde mundial, tão desejado pelo jamaicano, não veio. Ele não correu
abaixo dos 19s19, nem chegou perto. Mesmo assim, fez “apenas” o melhor tempo do
ano (19s66). Por isso, a festa é merecida. Ele pode ser fotógrafo para Warren
Weir, o compatriota vice-campeão - o americano Curtis Mitchell completou o
pódio. Bolt pode dançar reggae, fazer careta para as câmeras e dar quantas
voltas olímpicas quiser. Usain Bolt não tem limites.
-
Eu me esforcei muito nesta temporada para ser o melhor. Estou muito feliz pela
vitória nos 200m, que é minha prova favorita. Eu sabia que não seria tão
rápido, porque estou um pouco cansado dos 100m. Meu técnico falou para eu não
forçar e arriscar uma lesão. Meu foco é dar meu máximo para ganhar, é o que
faço sempre - disse o jamaicano.
O
jamaicano diz que sentiu a vitória nos 150m. Apesar do cansaço e da pressão de
Warren, Bolt viu que o tricampeonato estava próximo a partir dali. - Após os 150m,
você sabe se vai ganhar ou não. Vi a torcida, Warren estava lá perto, e eu
estava cansado, olhei para a esquerda, e ninguém estava lá. Acho que ganhei já
nos 150m.
Depois
de guardar energia nas etapas anteriores e chegar à final rindo à toa, Bolt
mudou de postura. Em vez do jeitão extrovertido, cheio de marra e de graça, o
jamaicano fechou a cara. Toda concentração era necessária para buscar não só o
tricampeonato, mas também um novo recorde. Ele arrumou o cabelo e piscou para a
câmera, sabia o que estava por vir. Pediu proteção divina e arrancou para mais
um título.
Como
sempre, Bolt sobrou já na curva e entrou na reta final com mais de dois metros
de vantagem para os rivais. Ele até diminuiu o passo quando percebeu que não
conseguiria fazer um novo recorde. Tudo bem. Fica para uma próxima vez. O Raio
se contentou com o título inédito.
A
trilha sonora de Bob Marley voltou a soar no estádio Luzhniki para saudar Bolt
e também seu compatriota Warren Weir, vice-campeão com o tempo de 19s79, a
melhor marca de sua vida. Até o americano Curtis Mitchell foi convidado para a
festa, afinal, ficou com o bronze ao completar a prova em 20s04. Ele não se
arriscou no reggae, enquanto os jamaicanos caíram no passo.
Bolt
até tirou uma foto do amigo Warren, que corre com uma pulseira do Brasil como
amuleto e é fã de futebol. Mas o medalhista de prata não pôde retribuir o
favor, dezenas de fotógrafos tomaram sua frente para registrarem o melhor
ângulo da pose do raio. Todos os holofotes são para ele, Usain Bolt, o primeiro
tricampeão mundial dos 200m rasos. - Eu amo os 200m, todo mundo sabe disso, mas
a pressão é sempre diferente nos 200m, sempre fico mais nervoso porque
significa muito para mim. Os 100m é para o show, é o evento que todo mundo quer
ver - explicou.
Globo.com
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